quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Victor

Como terapeuta em quimio-dependência, qual foi o caso mais assombroso,que tu enfrentastes no "Lar da Paz" ?
Foi com o Victor, 40 anos, um uruguaio que nos foi trazido pelo Ministério Público em Cacoal-RO.
Ele nos foi encaminhado após o Conselho Tutelar retirar-lhe a filha de 8 anos, os dois vivendo em condições precárias, abandonados pela mãe.
Depois que a filha lhe foi retirada ele parou de falar. Comportava-se como um autista mudo, olhar vidrado e distante e mal comia.
Estava conosco há quase um mês e não conseguíamos nos comunicar com ele e nem fazê-lo emitir nenhum som ou reação.
Até o dia em que meu filho caçula, Mateus, aproximou-se dele, estendeu-lhe a mão e disse: "-Paz do Senhor?" Após alguns segundos fitando o Mateus seriamente, Victor abriu um sorriso, e estendeu a mão devolvendo o cumprimento respondeu: "-Paz do Senhor". Os dois começaram a conversar e aos poucos Victor foi se recobrando e no final do programa nós o enviamos de volta ao Uruguai para buscar nova documentação e regularizar sua situação.
A última noticia que tive foi de um pastor uruguaio que estava ajudando-o e ligou-me para confirmar sua história.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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Das Trevas para a Luz - final


Indo pra casa de recuperação numa Kombi caindo aos pedaços estávamos o Pr Wellinghton Antunes, fundador e diretor do trabalho do Desafio Jovem Peniel na época, eu, sentado no meio e meu acompanhante, o Dr Geraldo, também recuperado na entidade.
Haviam dito, antes de eu sair para Ariquemes-RO, que com uns quinze dias no programa eu poderia sair recuperado do vício. Então, com o orgulho do esforço próprio, tencionando ficar no máximo uns 10 dias, perguntei ao pastor qual o tempo mínimo que alguém já havia sido recuperado. Com toda a sua simplicidade e calma mineira ele respondeu: "- O tempo mínimo no programa é de seis meses".
Quase pulei da Kombi. Seis meses me parecia uma eternidade. Mas me calei pensando em dar o fora na primeira oportunidade.
Ao chegar no sítio tive uma sensação de miséria e abandono como nunca na vida. A casa de madeira era velha e feia, não havia luz elétrica e apenas um gerador de energia que funcionava 3 horas por noite quando não resolvia dar xiliques. Não havia água encanada. O banho era de canequinha com água meio barrenta retirada do poço que, quando secava, nos fazia andar mais de 150 metros para buscar água de balde num poço vizinho.
Não sei como me submeti àquela situação. O desespero e a vontade de sair das drogas acho que me levaria a encarar qualquer coisa, afinal eu estava a um passo do suicídio.
Depois de ser recebido e acomodado pelo obreiro Bebeto, a gentileza em pessoa e já falecido, aparelhado com uma enxada enorme e pesada, fui conduzido para a terapia ocupacional  com os outros internos.
Ao chegar no meio da turma que tinha umas sete pessoas o meu desespero aumentou. Um deles cantava um hino evangélico, outro gritava "Aleluia!" e "Glória à Deus!" e um outro virou pra mim e disse: "- Seja bem-vindo em nome de Jesus. Aqui Jesus vai mudar a tua vida".
Quase pirei e pensei: "Meu Deus! Vim parar no meio de gente mais doida do que eu! Isto não vai dar certo".
Eu não gostava de crentes. Achava-os um bando de alienados (e alguns são mesmo). Tenho que dar o fora logo daqui, pensei.
Mas depois de alguns dias comecei a notar algo diferente na maioria dos internos. Eles eram pessoas que tinham uma alegria verdadeira e uma paz que eu sempre havia procurado e nunca encontrado. Comecei a invejá-los. Quando perguntados atribuíam tudo ao seu relacionamento pessoal com Jesus. Comecei a ficar curioso. Eu tinha religião mas não era nada parecido com aquilo.
Uma tarde, quando todos estavam nas tarefas, saí sem ser notado e entrei no alojamento. Estava só e parece que havia uma atmosfera eletrizada, como um parto prestes a acontecer. Despido do meu orgulho como alguém que se entrega ao cirurgião, e escondido entre os beliches, ajoelhei-me no canto do alojamento e fiz o que acho ter sido a primeira oração real da minha vida. Eu disse: "Deus, se tu existe de verdade, muda a minha vida. Arranca essa angústia da minha alma e me faz uma pessoa diferente!" e arrematei, hoje grato por Deus não levar em consideração a nossa ignorância teológica: "-Eu te dou vinte dias, Deus. Se em vinte dias não acontecer nada diferente na minha vida eu vou embora daqui e nunca mais quero saber de nada a teu respeito!"
Não sei direito como aconteceu mas dois dias depois eu acordei cantando um hino. Desconfiei que era influência do ambiente e até me vi brega e "decadence" mas não importava. Havia alegria em mim. Um fio de esperança balançava sobre a minha vida.
Nos dias que se seguiram, nos momentos de leitura bíblica e meditação, as palavras da bíblia tinham um outro sentido. Pareciam falar diretamente comigo e eu tinha fácil entendimento delas, e eu já havia lido a bíblia antes. Parecia que Deus falava sentado ao meu lado ensinando o sentido verdadeiro de cada passagem. Eu vibrava, como alguém que havia encontrado um tesouro.
Quando descobri então sobre o louco plano da salvação, entreguei-me completamente à esse Senhor amoroso e compreendi que algo tão valioso não poderia ficar escondido comigo...o mundo deveria saber disso.
Revelações novas continuavam vindo e continuam até hoje e as conhecidas se aperfeiçoam e ganham um novo enfoque e perspectiva a cada dia. O interessante que na minha turma de internos as discussões e desavenças não eram por coisas comuns da vida e sim por interpretações divergentes da bíblia. Grande turma aquela. Alguns tornaram-se missionários, outros pastores e servos fiéis.
Tudo o que relato aqui é de forma resumida. Muitas coisas relevantes aconteceram e que ocupariam muito espaço e infelizmente as pessoas não têm mais paciência para ler um texto muito longo. Quando relato meu testemunho nas igrejas consigo expor de forma mais diversificada e completa.
Paralelamente Deus fazia a obra na minha familia. Ao terminar o programa e retornar para casa encontrei minha esposa convertida e freqüentando uma igreja batista. Eu havia voltado pra dizer que sairia pelo mundo para ser um pregador da Palavra de Deus, sem salário e totalmente dependente de Deus e que eu iria começar pelo centro de recuperação pois lá carecia de obreiros. Temi pela resposta dela mas ela disse: "-Vou com você pra onde você for". (Yesssss!!!)
Estamos há 17 anos trabalhando com recuperação e tívemos o privilégio de fundar e dirigir igrejas e centros de recuperação e vermos centenas de pessoas libertas e salvas e também vê-los crescer e tornarem-se servos abençoados, pastores e missionários. Muitas coisas "inacreditáveis" aconteceram neste tempo que ocupariam um livro para serem relatadas e com o tempo serão.
Bendito seja o Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo que nos fez filhos e nos vocacionou e nos ungiu para tão nobre trabalho no qual tudo proveu e nunca nos deixou faltar coisa alguma.
A Ele seja a Glória eternamente!

Pr Julio Soder

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O muro e as portas


Os muros que servem de proteção podem tornar-se também uma prisão religiosa.
Reflexão sobre a reconstrução dos muros de Jerusalém por Neemias na Igreja Peniel B.A. em Contagem-MG em 06/12/2009.

18 Mb - 40 min


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Pr Julio Soder

Das trevas para a luz - Parte 2


...Continuação.

Chegamos em Rondônia em 1984.
Eu, Elenir, Maita, nossa filha de quase um ano e um amigo, sócio, relojoeiro e viciado como eu.
Fomos morar bem no interior, fora do eixo da BR 364, numa cidade que estava começando, Alta Floresta.
Eram seis meses de seca e seis meses de chuva, poeira e barro, muito calor e condições precárias. Tudo era muito caro e também cobrava-se caro por qualquer serviço.
Havia trabalho pra todos, muita madeira, muito ouro e muita cocaína pura. Era a economia da região na época.
Montamos a relojoaria que logo começou a prosperar mas dinheiro na mão de viciado é vento.
Logo conhecemos os "malucos" do lugar. A cocaína atrai gente diferente do usuário de maconha. Ali cheiravam abastados comerciantes, políticos, fazendeiros e gente "respeitável" da cidade. As reuniões para curtir parecia um evento familiar.
A quantidade e a freqüência de uso foram aumentando gradativamente e eu não percebia que estava afundando. Quando queria droga em quantidade e qualidade maior e mais barata era só ir à Bolívia, à cerca de quatrocentos quilômetros dali, distância pequena para uma região enorme. Fiz esse trajeto várias vezes.
Eu só trabalhava "doido", quase não dormia e comia pouco. Compromissos profissionais descumpridos, dívidas no banco, com a colaboração do plano cruzado do Sarney e vivendo em função da droga, em menos de três anos a falência financeira e moral batia à porta.
Então, em 1987, eu, Elenir, Maita e Lucas, nossos filhos, mudamos para Cacoal, apenas com as ferramentas para a fabricação de jóias a fim de recomeçar a vida.
Foi uma ilusão achar que a mudança de lugar mudaria a minha vida. O problema estava comigo; eu era o problema.
Foram mais sete anos de dores e ranger de dentes. Tive overdose quase letal algumas vezes. Agora eu não cheirava mais; eu injetava; o efeito era maior. Naquele calor da Amazônia eu vestia manga comprida para esconder as picadas nos braços.
Propositadamente omito aqui as circunstâncias, as peripécias e os detalhes escabrosos deste tempo. Isto ocuparia um livro e não tenho prazer nenhum em relembrar a sordidez dos meus pecados.
Sinceramente tentei largar as drogas várias vezes. Mas meus esforços duravam pouco. Se com a cocaína era ruim, era pior sem ela. O grito silencioso e angustiante da alma estava lá e agora, mais desesperado.
Pensei em suicídio muitas vezes. À princípio parece uma idéia absurda mas a falta de uma solução eficaz vai tornando-a aceitável.
Apesar de minha vida conjugal e familiar estar indo de mal a pior eu os amava. Eles sofriam e a culpa era minha. Decidi acabar com aquele sofrimento. Eu suicidaria naquela noite. Bastava tomar uma pequena quantidade de cianureto, substância que eu utilizava na fabricação de jóias.
 Eram 9 horas da noite. Eu já tinha usado muita cocaína e bebida e esperava todos dormirem para tomar o veneno. Minha esposa ia passando pela sala e eu disse a ela: - Hoje os teus problemas vão acabar!
Ela saiu pelos fundos e eu só fiquei sabendo meses depois que ela pressentiu algo de muito ruim e foi falar com uma vizinha crente, que ligou pra outra crente e não sei por quantos crentes passou até que às 11 horas daquela mesma noite a Dra Raquel de Carvalho, médica e crente de verdade entrou na sala da minha casa.
Ela é pequena, de voz mansa e autoridade inquestionável e perguntou-me: -Você quer sair desta vida?
Mostrei-lhe os braços todos marcados pelas picadas e disse: - Pra mim não tem jeito mais.
Ela olhou pros meus braços e disse: Isto é muito pouco pra Jesus, meu filho. Que ir para um lugar onde você possa ser ajudado?
Eu disse: Quero, vou morrer mesmo. (Que mal faria?! Eu já estava morto mesmo).
Aquela mulher me amou sem nunca precisar dizer "eu te amo". Ela pagou a minha passagem, pagou uma pessoa para me levar e ajudou a sustentar minha familia enquanto eu estava no programa de recuperação e ajuda até hoje. Não somente pelo que ela fez por mim mas pelo que vejo na vida deles, Credival e Raquel de Carvalho são os crentes mais legítimos que conheço. E eles nem "falam em línguas" e nem precisam.
Então, no dia de "Finados" do ano de 1993, cheguei na Casa de Recuperação do Desafio Jovem Peniel na cidade de Ariquemes em Rondônia.

Continua...


Pr Julio Soder

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Das trevas para a luz - Parte 1


Fui viciado em drogas durante vinte anos. 
Ninguém se torna viciado do dia para a noite.
Viciados não são hipócritas. Eles reconhecem a profundidade da sua dor e buscam uma solução a qualquer custo; e acabam adquirindo uma dependência na tentativa de aplacar os efeitos angustiantes da ausência de Deus, o verdadeiro pecado.
Experimentei muitas coisas tentando calar o grito silencioso e angustiante da minha alma.
Aos 12 anos eu já bebia muito. Era um sinal de hombridade na cultura jovem onde eu crescia. Dava um certo "satus"; mais um aditivo amortecedor da angustia, apesar das consequências nauseantes.
Aos 16 (hoje os jovens são iniciados bem mais cedo), conheci a maconha no lugar onde a maioria dos jovens são iniciados nas drogas: na escola. Não queria e nem pensava em me tornar um viciado mas temi ser rejeitado pela turma que me ofereceu o "baseado". Eles eram os únicos que eu me identificava, que sofriam as mesmas angústias e questionamentos meus. Angustia + solidão deveria ser uma associação terrível, pensei.
Havia também uma multi conspiração ao nosso redor. Pink Floyd e Led Zeppelin estavam no auge na época, conclamando a juventude à busca de algo que ninguém sabia direito o que era. As meninas só queriam estar com os maconheiros. Elas consideravam a gente "cabeça" e a expressão "sexo, drogas e rock' roll" marcaram bem aquela época.
Minhas notas na escola foram caindo e o vocabulário também. Quando maconheiros reunidos e "chapados" conseguirem articular "falôu!", Sóóó!" e "pode crê!" já é um tratado filosófico.
A frequência de uso foi aumentando aos poucos, novos usuários surgiam aos montes e o que antes era de graça agora era pago e caro.
Os valores morais e os limites em que fui criado por meus pais foram ruindo. Mentiras e pequenos furtos em casa eram constantes para manter o vício.
Consegui terminar o 2º grau com notas mínimas em algumas matérias.
Antigos amigos e companias foram substituídas por gente mais comprometida com o universo das drogas. Com a convivência cada vez mais assidua com a criminalidade minha ousadia e malignidade começaram a aumentar até ser preso e condenado a três anos de prisão junto com uma "galera".
A prisão é um terror e aquele tempo que lá passei e as peripécias daquele lugar merecem um capítulo à parte...ou nem merecem.
Quando saí da prisão decidi sair pelo Brasil e tentar uma nova vida.
Cheguei no Paraná onde conheci minha esposa.
Mas só o lugar era novo. Por dentro eu ainda era o mesmo. E aquele grito silencioso e angustiante da ausência de Deus continuava ali e, cada vez maior...
Em pouco tempo lá estava eu reunido com os mesmos tipos. Havia uma espécie de identificação e atração mútua.
Mais temeroso depois da prisão comecei a traficar maconha do Paraguai. Eu não gostava de crimes. Gostava mesmo era da droga. Arrisquei a liberdade e a vida vária vezes atravessando a ponte da Amizade, na divisa de Foz de Iguaçu com o Paraguai. Muitas vezes levava minha esposa comigo. Ela suportava tudo por mim. Ela me amava como até hoje.
Aprendi a profissão de ourives para despistar a atenção sobre o tráfico e comecei a gostar da profissão. Tornei-me um bom joalheiro e, sabendo da corrida do ouro e madeira no estado de Rondônia, mudamos para lá no início da década de 80.
Foi ali que o verdadeiro inferno começou.
Ali abundou o pecado mas também superabundou a graça, mas não sem antes mergulhar em densas trevas.

Continua não sei quando...

Pr Julio Soder

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma guerra religiosa



A perseguição aos judeus e a sua luta vista como uma guerra religiosa com o objetivo de destruir Israel e varrer a memória de Jeová da face da terra.
Uma reflexão em um texto do livro de Neemias por ocasião da reconstrução dos muros de Jerusalém.


24 Mb - 26 min


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