Bráulia Ribeiro
Já faz algum tempo que briguei com as reuniões de oração evangélicas. Me sento em protesto nauseado que as músicas desfilam um corolário interminável de "Eus" e "Meus". Fiz uma análise textual das "dez mais" da adoração aqui na base das igrejas que visitamos, provando gramaticalmente, semanticamente, sem sombra de dúvidas (penso eu) que o centro gravitacional de todas elas é sempre o EU e nunca Deus, apesar de parecerem tão piedosas. Mostrei (também penso eu) de maneira inequívoca que a divindade adorada por estas canções pseudo-evangélicas não é o Senhor dos Exércitos, mas um deus subserviente cuja única preocupação real é deixar o adorador feliz, realizado, num estado de êxtase orgásmico. Nada mais. Este deus não lhe requer nada, não lhe diz nada, não chama o adorador para fora do seu Eu-narcísico. Não lhe mostra o pobre, a guerra, a dor, o amor no outro. Se contenta em acalentar-lhe o ego e se sente apaziguado quando ouve repetidas vezes elogios pobres à sua capacidade infinita de tornar o adorador indiferente e feliz.
Somos o que cremos, somos o que cantamos também. Se cantamos só a nós, mergulhamos em nada além de nós. Ao invés de seguidores de Jesus hoje somos Jesus' pantyfans, verbete internético não pejorativo que se refere a fãs que jogam calcinhas em palcos. Somos "adoradores" ousados, exagerados, aparentemente por Jesus, mas no fundo em busca do êxtase individual nada mais. Cantamos até atingirmos o nirvana evangélico do nada além de meu budista, gordo e satisfeito.
Trecho de texto de Bráulia Ribeiro, publicado na revista Eclésia n. 137, p. 52-53.
Extraído do Blog da Maya
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