segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Jesus' pantyfans


Bráulia Ribeiro

Já faz algum tempo que briguei com as reuniões de oração evangélicas. Me sento em protesto nauseado que as músicas desfilam um corolário interminável de "Eus" e "Meus". Fiz uma análise textual das "dez mais" da adoração aqui na base das igrejas que visitamos, provando gramaticalmente, semanticamente, sem sombra de dúvidas (penso eu) que o centro gravitacional de todas elas é sempre o EU e nunca Deus, apesar de parecerem tão piedosas. Mostrei (também penso eu) de maneira inequívoca que a divindade adorada por estas canções pseudo-evangélicas não é o Senhor dos Exércitos, mas um deus subserviente cuja única preocupação real é deixar o adorador feliz, realizado, num estado de êxtase orgásmico. Nada mais. Este deus não lhe requer nada, não lhe diz nada, não chama o adorador para fora do seu Eu-narcísico. Não lhe mostra o pobre, a guerra, a dor, o amor no outro. Se contenta em acalentar-lhe o ego e se sente apaziguado quando ouve repetidas vezes elogios pobres à sua capacidade infinita de tornar o adorador indiferente e feliz.

Somos o que cremos, somos o que cantamos também. Se cantamos só a nós, mergulhamos em nada além de nós. Ao invés de seguidores de Jesus hoje somos Jesus' pantyfans, verbete internético não pejorativo que se refere a fãs que jogam calcinhas em palcos. Somos "adoradores" ousados, exagerados, aparentemente por Jesus, mas no fundo em busca do êxtase individual nada mais. Cantamos até atingirmos o nirvana evangélico do nada além de meu budista, gordo e satisfeito.

Trecho de texto de Bráulia Ribeiro, publicado na revista Eclésia n. 137, p. 52-53.

Extraído do Blog da Maya

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