segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Nas mãos do oleiro


Chega um tempo na vida em que o oleiro resolve valer-se dos trilhos da existência para moldar-nos à medida do seu filho. Para os que receberam o Filho como Filho e a graça como favor, não existe outro propósito às vistas do Altíssimo, referente ao homem, que não seja a de fazer-nos semelhantes ao Cristo.

Quem nunca vivenciou dias em que parece estarmos numa olaria? Parece que ele, o oleiro, tem prazer em quebrar parte por parte, sem pressa, demoradamente, pra doer mesmo.

A vida é cruel. Na realidade viver exige pulso firme. Quando parece que tudo vai muito bem, chega o tempo em que quase nada – ou nada – dá certo, qualquer passo é incerto, qualquer pingo d’água se torna em tempestade, quanto mais o bem se quer fazer, muito mais o mal se obtém.

É a mão do oleiro, é o peso do martelo, é o estralar da argila seca. Dor e muita lágrima. O coração angustia-se, a alma comprime e a mente se confunde. Ele, o oleiro, trabalha com afinco, planeja um vaso perfeito à medida do verbo que se tornou carne.

Nesses tempos é bom manter o silêncio, calar-se. Se tiver de gritar para liberar a alma, grite quando estiver só; se gritar não for o bastante, esprema os olhos e chore, pois chorar libera a alma do medo da morte, do não existir.

São tempos de muita dúvida, inconstância, medo e tremor; mas resta uma certeza que se fortalece em meio à tanta lágrima misturada com barro: o amor de Deus não se esvai com processos de dor.

A dor torna real a existência, firma o chão da alma, torna a vida menos insossa. Ao vaso resta apenas uma atitude para não atrapalhar o processo: recordar. Recordar que Ele, o oleiro, controla a existência; cuida, ama, abraça, acolhe, chora junto, geme junto, sofre junto. A solução para o alívio da dor é a esperança, lembrar-se das obras do oleiro e recobrar a memória enchendo o coração de expectativas, pois o oleiro não tarda, não erra o tempo, não comete equívocos.

Esses são tempos que redundam em um novo ser, mais semelhante Àquele que tudo sofreu em favor do amor e que triunfou através da morte para a vida.

Tempos em que é sempre bom provar da doçura das palavras de um vaso que há muito sofreu a dor da perda, do abandono, da solidão – vivenciou intensamente o processo:

Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se a cada manhã; grande é a sua fidelidade! (Lamentações de Jeremias 3:21-23)

Em Cristo, Aquele que sofreu as minhas e as suas dores, mas triunfou pelo amor,


Will - Celebrai!

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