quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Coisas de um Deus gracioso


Não se pode estabelecer uma doutrina em cima de experiências pessoais. Elas são muito particulares e os fatores envolvidos são variados e, muitas vezes, desconhecidos, pois depende do plano de Deus na vida de cada um e do que Ele quer realizar na estrutura e caráter dos seus filhos.
Vejo muitas vezes o povo de Deus fazendo campanha para obter o que o diabo ofereceu para Jesus no deserto e, mais ainda, há mensagens saídas do púlpito que querem nos fazer determinar que "estas pedras sejam transformadas em pães".
O interessante é que no mesmo texto que diz "pedi e dar-se-vos-á" também diz que o "nosso Pai celeste sabe que necessitais de todas estas coisas".
Lembro-me que foram raras as vezes que tenho pedido a Deus coisas materiais e sempre tive todo o necessário e com sobra para viver e realizar a missão em que estive envolvido mas, como já disse, esta é uma experiência pessoal e não serve de padrão para ninguém, a não ser os princípios espirituais  implícitos.
Dentro dessas experiências que, repito, não é um padrão de ensino, tenho a convicção que Deus se agrada mais da sinceridade irada do que da gratidão resignada e hipócrita.
Em 2001, na cidade de Cacoal, Rondônia, ao assumir a missão de fundar e organizar uma entidade para recuperar quimio-dependentes, tínhamos pouco recursos financeiros. A diretoria conseguiu, de doação da delegacia, uma moto "cabrita"(roubada e adulterada) muito velha. Era uma CG 125 que havia passado na mão de quase todo policial da cidade em missão ou não. 
Como bom servo de Deus, acostumado e "treinado a dar graças em tudo" aceitei alegremente. Era melhor do que ficar a pé. Afinal, "tudo provém de Deus".
Mas a moto só me fazia pagar "mico". Era uma verdadeira tribulação. Apagava no sinal e só pegava depois de muita oração e um mecânico; caía a parte lateral no meio do trânsito e eu parava e ia lá pegar e colocar de novo; o povo ria. E eu quieto (por fora). Não queria ser considerado "murmurador" e nem que Deus pensasse que eu era mal-agradecido. Como se Ele não soubesse.
Um dia, depois do estudo bíblico e com pressa pra chegar na cidade para uma entrevista com um novo candidato à recuperação, a moto não quis pegar. Uma ira nada santa me subiu. Joguei a moto no chão e subi bufando em direção ao monte, bem longe, para que os internos não pudessem me ouvir. Lá no topo, vociferei arrogantemente: "- Olha aqui, Deus! Vim aqui seguindo a tua direção mas tá muito difícil. Tudo quanto é entidade que nem teme o Teu nome tem de tudo pra trabalhar e eu aqui nesta pindaíba. E eu ainda fico pregando por aí que o Sr é o Deus do ouro e da prata. Eu não aguento mais. Essa m... dessa moto deve ter sido então o diabo que me deu! O Sr tá brincando comigo?!".
Silêncio total...nem um sussurro e nem um raio me fulminou.
Desci do monte sem resposta mas aliviado. Eu havia me desnudado para Ele. Não fingiria mais para Ele.
Na descida, vi que um recuperando havia consertado a moto. Eles abrem e consertam tudo. São cheios de talentos. Quer achar gênios em quantidade? Procure entre os viciados em drogas e alcoólatras.
Duas semanas depois, enquanto eu dava estudo bíblico para os internos, vi alguém entrando de moto pelo portão do centro de recuperação. Continuei ministrando o estudo enquanto ele se aproximava lentamente. Parou do lado da turma e desceu da moto mais linda que eu tinha visto. Era uma Falcon 400, vermelho sangue, novinha, lançamento da Honda na época. 
Para não interromper o estudo pedi que ele se assentasse e ouvisse a palavra também, pois eu estava quase terminando. Propositadamente alonguei o estudo na esperança de que a palavra o atingisse também.
Quando terminei fui atendê-lo. Ele disse que queria falar comigo em particular. Convidei-o então a subir a trilha para o monte, de onde poderíamos ver toda a propriedade. E ali, no mesmo lugar em que eu havia reclamado com Deus ele tirou do bolso a chave e os documentos da moto, estendeu pra mim e disse: "- Toma, esta moto é sua, Deus mandou dá-la a você.
Levou dois dias pra cair a ficha e eu aceitar que aquela moto era minha de fato.
Nem sei que lições e ensinos tirar disso tudo. Mas sei que ele é tão gracioso que a gente não consegue nem absorver esse ensino. E a gente ainda pensa que pode afetá-lo com nosso pseudo- desempenho.
Curiosamente que, no viver com Deus, nem sei mais onde termina o natural e começa o sobrenatural. Não consigo fazer essa divisão. Até nem acho que ela exista.
Hoje aconteceu mais um caso parecido. Eu nem pedi. Mas isto é história pra outro post.

Pr Julio Soder





2 comentários:

Anônimo disse...

Pr Júlio,

Realmente ao se falar de bens materiais para mim é um grande mistério de Deus. Às vezes me sinto confuso e acredito que outras pessoas também devem ficar, porque aprendi que se uma pessoa ganha muito dinheiro ela tem o dom de contribuir, agora qual o limite de se reter o que ganhou? Qual será o tanto que posso ter que não me traz a condenação? Porque Jesus também nos falou que era para ter vida em abundancia e comer o melhor desta terra. Ao mesmo tempo ele fala que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico ser salvo. Será que o senhor pode falar mais um pouco sobre este assunto? Ainda estou meio confuso. Um abraço meu amado irmão em Cristo Jesus, e que a paz do Senhor esteja sempre contigo.

Alexandre Pirola disse...

Poderoso é Deus para nos dar muito além daquilo que pensamos ou pedimos.
Vivi isso também em minha vida.
Certa feita estava precisando de uma camionete. Andando pela rua vi uma camionete Ranger, bem simples e me lebro que orei a Deus naquele momento dizendo que nem precisava ser uma camionete daquele, poderia ser outra bem mais velha. Poucos dias depois, o Pr. da minha igreja encosta na calçada uma camionete importada, nova, completíssima e por incrível que pareça, também vermelha. Mas para minha surpresa não era dele. Sse achegou a mim e disse: "essa é pra vc..."
Glória Deus por estas coisas... Pois Ele sabe exatamente o que precisamos... melhor que nós mesmos.

PAZATODOS !!!