A responsabilidade primordial do pastor - Meu trabalho como pastor é chamar as pessoas ao arrependimento, a negarem a si mesmas, pegarem a sua cruz e seguirem a Jesus. Se eu substituo “Arrependam-se” por “Como eu posso lhe ajudar a colocar sua vida em ordem?”, eu estou me distanciando do Evangelho. Se eu subtraio a parte do “seguir” e digo “Vamos descobrir como você pode viver melhor a sua vida definindo-a da maneira que você desejar”, quem precisa de Jesus? Algumas vezes eu me sinto como alguém que circula por Times Square, em Nova York, carregando um cartaz que diz: arrependam-se! Faz 35 anos que sou pastor e não acredito nem um pouco que as pessoas sejam capazes de definir para si mesmas o que necessitam. Nós não nos conhecemos. Nós precisamos de Deus para nos dizer o que necessitamos. A coisa mais importante que um pastor pode fazer é levantar-se diante da congregação todos os domingos e dizer do púlpito: “vamos adorar a Deus”. Se isto deixa de ser a tarefa primordial que eu executo em termos da aplicação de minha energia, imaginação e do modo como eu estruturo minha vida, então eu já não funciono como pastor. Nosso trabalho fundamental é formar santos.
Problemas - Os pastores de hoje enfrentam mais problemas do que os pastores de gerações anteriores? Eu sei que esta é uma geração confusa, difícil, e ferida. Mas é possível que a principal diferença hoje não seja o quanto as pessoas estão machucadas, mas o quanto elas têm a expectativa de serem aliviadas de suas dores. O século passado conheceu tanto sofrimento quanto o nosso tempo conhece – a rigor, bem mais do que conhecemos hoje. Pense apenas em todas as enfermidades, mortes de crianças, pragas. A grande diferença hoje é que temos esta mentalidade de que, quando algo está errado, pode-se consertar. Você não precisa conviver com nenhum desconforto ou frustração em sua vida. E o pastor está na linha de frente daqueles que são abordados com a solicitação: “Faça-me feliz. Faça com que me sinta bem”.
Pessoas e programas - O Evangelho é experienciável. Não importa a qual a situação da pessoa; como pastor, você diz: “Esta pessoa pode experimentar o Evangelho aqui”. Isto, contudo, envolve dar atenção às pessoas – que é a maneira mais ineficiente de se fazer qualquer coisa. É chato, e quando você faz isto, você sente estar desperdiçando tempo. Afinal, existem comitês para os quais é preciso correr e orçamentos que necessitam ser equilibrados. O que então deixamos de lado para cumprir com todas estas obrigações? Ouvir as pessoas e vê-las em suas singularidades sem esperar nada delas. Deixamos de lado justamente o essencial. Pois quando você deixa de prestar atenção, as pessoas são categorizadas e recrutadas.
A fim de criar tempo para as pessoas, de que os pastores têm de abrir mão? Eficiência. Controle. Resultados rápidos. A satisfação de agradar os outros. Estas coisas são, na realidade, terríveis, e abdicar delas resulta numa liberdade maravilhosa. Não existe nada mais satisfatório do que ser alguém que proclama o Evangelho, alguém que está ali para orar. Quando você faz isto, você se sente parte de algo original e criativo na vida das pessoas. Você assiste a ressurreição de vidas. Mas você não pode produzir esta ressurreição, pois ela nunca acontece quando você pensa que ela deveria acontecer.
Sociedade - Esta cultura é uma cultura maligna. Através da mídia, dos amigos, das conversas, nós somos constantemente alimentados com mentiras. E, como a maioria das mentiras é 90% de uma verdade, engolimos as mentiras sem maiores dificuldades. Assim, a verdade do Evangelho vai sendo sutilmente enfraquecida. Você pensa que está pregando o Evangelho, mas não está. E você nem mesmo tem consciência disto. O trabalho do pastor é orar e estudar a Palavra. As pessoas na congregação estão ocupadas em seus empregos, lendo seus jornais, e participando de suas conferências. Como pastor eu preciso estar alerta em relação à minha cultura, de modo a evitar que minha congregação seja seduzida por ela. Se eu não fizer este trabalho, ninguém o fará.
O ritmo do ministério - É estranho: nós vivemos neste assim chamado tempo pós-moderno, e, no entanto, muito da imagem pública da igreja ainda tem a ver com este modelo racional, baseado no gerenciamento eficiente. Se os pós-modernistas estão certos, este modelo é ultrapassado; ele já não funciona mais. Neste sentido, sinto-me confortavelmente pós-moderno. Pois acredito que pastores precisam cultivar o hábito da “desocupação”. Meu pai era açougueiro. Quando ele entregava carne num restaurante, sentava-se ao balcão, saboreava uma xícara de café, e gastava ali algum tempo. Mas aquele tempo era fundamental para construir relacionamentos, para fazer negócio. Alguns pastores não andam à toa pelas ruas, não desperdiçam tempo. Seu tempo é muito precioso. Eles correm para a tumba, e ela está vazia; então eles correm de volta para seus escritórios. Eles nunca vêem a ressurreição. Para se desocupar, o pastor precisa desvencilhar-se dos egos (o próprio e o de outras pessoas) e começar a lidar com almas.
Oração - Eu quero ir além da idéia de que oração é uma atividade solitária do tipo faça-você-mesmo. Tenho tentado compreender a magnitude da oração, o mistério da igreja em oração. De alguma maneira, eu quero descobrir como as pessoas podem desconectar-se um pouco da correria de nossa cultura e engajar-se na prática do silêncio e da solitude. Estou disposto a trabalhar com pessoas visando descobrir como fazer isto, mas este é um trabalho lento. A maior parte do trabalho pastoral é trabalho lento. Não se trata de um programa que você organiza e faz acontecer. O trabalho pastoral é uma vida. É uma vida de oração.
Fonte: Cristianismo Hoje
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